As Casas da Agricultura, braço do Estado que oferece assistência aos agricultores paulistas, principalmente aos produtores da agricultura familiar, perderam nos últimos meses ao menos cinco prédios. Um dos mais recentes foi o edifício onde ficava a sede da Cati, órgão da secretaria que, por mais de 50 anos, coordenou as ações de Extensão Rural das 594 Casas da Agricultura, atual Coordenadoria de Desenvolvimento Rural Sustentável (CDRS).
A transferência do imóvel, com mais de três mil metros quadrados, em Campinas, interior de São Paulo, foi autorizada pelo governador João Doria, publicada no Diário Oficial do Estado, no dia 12 de fevereiro. Pelo decreto, o prédio passará a ser usado pela Procuradoria Regional de Campinas.
“É um duro golpe na estrutura das Casas da Agricultura, porque a CATi de Campinas tem localização estratégica, justamente para coordenar o trabalho realizado pelas unidades espalhadas pelo Estado”, salienta Antônio Marchiori, presidente da Associação Paulista de Extensão Rural (APAER), entidade que é contra o fechamento das unidades.
Outro prédio que acaba de ser cedido pela Secretaria de Agricultura e Abastecimento (SAA) para outra finalidade é o de Ribeirão Preto. Segundo postagem feita pelo prefeito da cidade, Duarte Nogueira, que já foi secretário estadual da pasta, no lugar da Casa da Agricultura funcionará a base da Guarda Civil Municipal (GCM).
“Além destas unidades, prédios das Casas da Agricultura de Bragança Paulista, Registro e Roseira também estão sendo tomados da Agricultura e os servidores estão sendo jogados para estruturas improvisadas de outros órgãos. É uma total falta de respeito com a história de mais de 50 anos da Cati. A gestão do governo Doria faz questão de manter as Casas da Agricultura fechadas e usa a pandemia como cortina de fumaça para desmantelar o serviço de extensão rural pública do estado de São Paulo”, destaca Marchiori.
Desde agosto do ano passado, o atual Secretário de Agricultura tenta acabar com as Casas da Agricultura, mas recuou da medida após mobilização de entidades da sociedade civil. Em novembro, o secretário Gustavo Junqueira se reuniu com representantes de entidades do setor e se comprometeu em aguardar uma proposta para evitar o fechamento das unidades. Deputados da Frente Parlamentar da Agricultura, na Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp), passaram a mediar a discussão, com a promessa de trabalhar para ampliar o orçamento da pasta, mas não houve avanços.
Em dezembro, a Apaer apresentou um estudo feito com contribuição de professores que atuam na extensão rural e florestal da Esalq/USP, Unicamp, Unesp Jaboticabal e UFSCar. O projeto, segundo a associação, enfatiza a vocação produtiva de cada região de São Paulo, aponta áreas socialmente mais vulneráveis – que exigem a presença do Estado e demonstra que o fortalecimento dos serviços de extensão rural das Casas da Agricultura e da Cati é investimento que traz retorno econômico, social e ambiental para a sociedade.
Ainda segundo a associação, a Secretaria da Agricultura age de forma dissimulada e, até agora, não apresentou proposta formal sobre o que pretende fazer com as Casas da Agricultura.
“O agricultor, principalmente das pequenas unidades rurais, não tem como pagar pelos serviços de extensão rural e vive momentos de muita apreensão e insegurança. A gestão da secretaria da Agricultura abandonou a população em meio à crise. A atual gestão está com a credibilidade comprometida”, finaliza o dirigente da Apaer.
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